Você
escreveu para mim em um domingo a tarde. Você me ligou perguntando
se eu já tinha aberto o e-mail e descoberto tudo, mas então, na
minha mania inocente de nunca te falar a verdade, eu disse que não,
não tinha visto e estava ocupada com a vida, diferentemente de você
que vive atrasado para tudo. Eu desliguei o telefone e agradeci por
que por algum milagre eu sou extremamente mais genial do que você.
Na verdade eu me acho tão foda que nenhum homem é capaz de se
comparar a mim. Só não sou um homem por causa dos meus bustos
avantajados e dos hormônios gritantes falando “ Olha, ainda me
derreto com o cara bonito passando ao meu lado”. Mas não é sobre
meus hormônios e minha genialidade que quero falar. É sobre o
quanto você me lembra aquele cara da esquina, sentado no banco,
esperando por uma vida que nunca chegara até ele, por que afinal
assim como você, ele não muda, não cria outro roteiro, não tem fé
e permanece na mesma. Fico me perguntando se é normal ser assim. Se
é bonito para você não ter um foco, uma novidade. Você é aquele
cara que se acha moderno demais, mas não sabe lidar com a porra da
modernidade. E a minha loucura só existe por que você sempre quer
me atingi. Você sempre quer brincar de “Quem segura a bomba
primeiro” e foda-se quem vai se machucar. Você quer me fazer
acreditar que a angústia que samba no seu peito é causada pela
minha falta de amor. Você sempre quer me tornar um ser mal- amado
como se isso fizesse de mim alguém capaz de correr para os seus
braços e dizer que agora podemos viver no paraíso. Mas não é
assim. Eu não quero isso. Você não sabe nada sobre mim. Você nem
sabe amar, só tenta como todo mundo em sua volta. Por que se a gente
não arrumar uma desculpa para amar, morremos no vazio. Por que o
amor, por mais vazio que muitas vezes seja, é melhor do que morrer.
Todo mundo é como você. Todo mundo quer amar e tentar e não morrer
na solidão. Só que o meu estomago embrulha e tudo que eu sinto sai
assim, vomitado mesmo. Tchau para você. Boa sorte para mim.
Um
dia desses te encontrei sentado num banco qualquer, de um lugar
incomum para nós e não te achei tão incrivelmente bonito como
antes. Eu demorei uns 25 segundos para acreditar que você não chega
mais ao coração, não mexe mais com meu estomago e nem é canção
serena pros meus ouvidos. A gente até bateu um papo legal,
conversamos sobre
nada,
trabalhamos sob um clima pesado. Só que eu não quero mais esperar
por você. Eu não quero ficar com você. Eu não consigo nem olhar
para você por que sou incapaz de aceitar que o seu carro estacionou
numa vaga suja e vazia da
vida de outra pessoa. E o pior, que saber?
Você
gosta de ficar lá.
Eu
não quis senti, mas eu sinto muita pena de você. Por que entre a
facilidade de te odiar e a honestidade de senti pena, é melhor a
pena. Você não sabe crescer, só sabe ficar ai parado nessa vaga
sem sentido de uma outra pessoa que não foi feita para você. A
gente até tentou manter as mascaras, a cordialidade, o momento de
paz, mas você já deixou de ser alguém que eu conhecia. Eu não
quis te abraçar e mesmo assim abracei. Eu só estava tentando não
gritar com você, mas a verdade é que o meu silêncio é mais alto
do que o meu grito.
Eu
realmente gostava da gente. Juntos, sentados na escada embaixo de um
pé de mangueira rodeados dos nossos amigos. Eu gostava do fato de
nunca dizermos nada diretamente para o outro, mas nos sentirmos
seguros com as dúvidas ali. Eu gostava de você e da sua mania de
falar besteira e me tirar do sério. Eu gostava do seu cabelo preto e
da sua tatuagem inacabada. E de como era legal não ter que esconder
nada e ao mesmo tempo esconder tudo. Você não é mais aquele que eu
esperaria a noite inteira para ver. Te mandei embora desde hoje e
sempre. Te mandei embora junto com todas as lembranças da gente. Te
mandei embora com todos seus dialogas daquele falso amor. Te mandei
embora e enterrei a nossa amizade embaixo do solo, enterrado dentro
de um caixão do qual não sei onde guardei a chave. Você nem é
mais tão legal como antes. Já conheci um milhão de pessoas mais
legais que você e até hoje não sinto pena delas. Já faz quase um
ano e nunca fomos nada na verdade. Já faz quase um ano que te vi
morrer, tentar outra, e não tirar o carro da garagem sem futuro ao
qual você estacionou há quase dois anos. A verdade que esse texto
nem é sobre você, é mais sobre a minha superação DE você.
Eu
realmente queria ficar com você, para sempre. Eu nem gostava de você
por que te achava incrivelmente bonito e inteligente, por que você
nem era tudo isso mesmo. Eu gostava de você por que eu queria te
fazer feliz. Por que eu queria te ajudar a crescer. Por que eu
gostava quando você me fazia rir. Eu gostava de você por que eu
gostava de você, do jeito que as pessoas gostam de outra sem saber o
motivo. Mas agora que eu não gosto mais de você, a vida está até
mais bonita.
Passei
um dia desses pela banco daquela esquina e não encontrei mais aquele
moço que me lembrava você. Soube por outros que ele descobriu outro
caminho, correu atrás dos sonhos e decidiu que esperar um milagre e
ficar na mesma é como se senti morto e vazio. E fiquei feliz por
ele. E fiquei mais feliz ainda por mim, que estacionei o meu carro em
uma vaga vazia feita para mim na vida de outra pessoa. Outra pessoa
que me ama e quer crescer comigo. E desejei felicidade e sorte para
mim e o moço do qual a esquina não o pertence mais. E pedir
baixinho em uma noite estrelada que você acorde enquanto a realidade
não te evapora.
(
Esse texto é baseado em algumas situações que já vivi e outra
parte é fictícia.)
Beijinhos e se cuidem <33
1 comentários
Adorei o texto ele reflete a confusão de nossa mente quando gostamos do garoto perfeito.
http://enfimshakespeare.blogspot.com.br/
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