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terça-feira, 17 de abril de 2012

O tempo.

Você me ligou ontem pra perguntar se eu estava bem. E eu lembro que respondi cinicamente que sim. Você até riu. Talvez tenha achado engraçado a minha forma errada de mentir. Por que puta que pariu, eu minto mal pra caralho. Desculpa usar meros palavrões nem tão pesados assim, mas eu odeio esse meu modo de mentir tão inocente que nem convenço a minha mãe de que não tenho medo de barata. E você sabe, eu morro de medo de barata. Mas tudo bem... Eu só queria entender se aquela pergunta foi à toa, por que você me ligou ontem, depois de tanto tempo sem nos falarmos, você se lembrou do meu número e resolveu ligar. E admito que só atendi por que não sabia que era você. Se eu soubesse deixaria o telefone tocando por minutos, esperando que eu atendesse e provavelmente você mandaria uma mensagem me dizendo que meu orgulho não ia me levar pra merda de lugar nenhum. E agora, pensando melhor, quem realmente abriu a porta e foi embora? Não me recordo. Se fui eu que desistir de nós, não lembro. Mas sempre disse pra mim e pros outros que quem partiu primeiro foi você. Só que ontem depois de você ligar e tentar puxar aquele assunto cheio de segundas intenções, mas tão vazio, eu me perguntei se era realmente verdade que o culpado do fim fosse você. E demorei mais do que o normal a tentar dormir. É que eu passei horas tentando encontrar a resposta. Refiz até nossas ultimas conversas e últimos passos. Tentei me lembrar de quem abriu à porta primeiro, mas nada. Eu realmente tenho essa lembrança apagada da minha mente, como se alguém estivesse arrancado ela de dentro do meu cérebro, até rir um pouquinho ao pensar que talvez tenha sido você, por que você sabe onde eu colocava aquela chave escondida aqui de casa,quando a gente tava junto só pra quando você sentisse saudade,me surpreendesse ao deitar ao meu lado e me abraçasse, e encostar seu nariz no meu cabelo, e dormimos. Ah. Droga! Me lembrei de tudo isso e começou a dar defeito o meu coração. É, ele é todo assim: defeituoso. Começo a pensar na gente e meu coração já está atropelando minha respiração. Droga.

Você sempre me liga quando quer alguma coisa. Nunca me liga sem nenhuma intenção. Foi sempre assim. Desde o inicio que você tem esse jeito de príncipe desencantado. Todo lindinho, todo estiloso,todo cheiroso, e todo interesseiro. Eu detesto seu interesse,seu charme,seu sorriso de cara inteira,suas covinhas,seus olhos castanhos,seu coração desapegado. Nossa, como eu te detesto! E então começo a pensar aqui que desde que você foi embora eu sinto saudade, preencho essa saudade com outras pessoas e mesmo assim não sei amar. E me lembro de que somos dois: Nós não sabemos amar. E tínhamos tudo pra dar certo, não é? Mas não deu. Você é um traste e eu não presto. Simples assim. Igual 2+2. Você sempre me liga pra tentar descobrir se eu já aprendi a amar alguém. Você liga na intenção de outro cara atender ao telefone e você desligar com a certeza que você perdeu. Por que até agora mesmo distante você só anda ganhando. Ainda não me livrei de nós. E ainda continuo só, entre aspas é claro. Da mesma forma que você. Nós dois temos essa mania de contar pra todo mundo do nosso orgulho de não sentir falta de ninguém, de não saber amar ninguém, mas nós mesmos nos enganamos, pois somos bons mentirosos. Aliás, você é um bom mentiroso, e eu só tento. Mas a verdade é que ninguém sabe como amar do jeito certo. Ninguém consegue amar. Só tentamos. Tentamos para não morrermos. Para não cometermos suicídio. Para não sufocar a vida com o vazio de ser sozinho. A diferença entre nós é que “esperança” pra mim e “tanto faz” pra você.

Lembro-me do dia que fomos ao shopping e resolvemos entrar na livaria. Um silêncio absurdo lá dentro e você brincando de se esconder de mim entre as prateleiras. E eu ficava sussurrando seu nome só pra não atrapalhar a leitura das pessoas e você se divertindo e eu com um pouco de medo de que a gente fosse expulso dali. Depois, no mesmo dia, nós assistindo ao filme no cinema e você deitado com a cabeça no meu ombro e dormindo. Eu achei você tão lindo. O filme acabou e todo mundo foi saindo da sala, e eu continuei uns 12 minutos ali dentro só pra não te acordar e foi à coisa mais corajosa que eu fiz até hoje. Depois eu te acordei e você ficou me olhando sem saber o que estava acontecendo e eu te dei um tapinha na testa e levantei te chamando de idiota só pra fingir que estava super irritada  com sua falta de vontade de assistir meu filme preferido. Chegamos à minha casa e você disse que não podia demorar. Me olhou triste e se despediu. Só que eu também não podia demorar. Não podia ficar e ainda não posso. Eu to sempre indo. To sempre evitando. To sempre deixando todo mundo ir, mesmo que esse todo mundo seja quem eu ame. E eu, principalmente, não consigo permanecer na tua vida e nem quero que você permaneça na minha. Não consigo conviver com a ideia de está deixando outras mil garotas sem o prazer de te conhecer e não consigo aceitar o fato de que te deixar ao meu lado afastara outros mil garotos incríveis que ainda quero conhecer. Sou egoísta sim. Tenho certeza que você conhece muito bem essa parte de mim. Nunca deixei nenhuma outra garota dançar com você quando estávamos numa festa. Nem deixei ninguém tentar puxar assunto com você quando eu sentia que estava em perigo. Nunca quis te deixar ser livre por que o meu egoísmo gritava mais alto do que meu amor. Eu deixei você ir embora por que sentir medo de te deixar prisioneiro em minhas mãos. Eu estava com medo de ser prisioneira, mas enxerguei a porta de saída em você.

Eu gostava tanto de você. E seus momentos de ciúmes bobos, e seus joguinhos viciantes de computador, e seus momentos nerd, e seus comentários inteligentíssimo sobre assuntos que eu desconhecia. E o seu cinismo ao olhar nos meus olhos e dizer que não fez nada e seus estresses quando eu queria que você bebesse menos, e você nem bebia tanto assim. Eu amei cada detalhe de você. Decorei cada centímetro do seu corpo,cada sinal,cada cicatrizes de infância,cada mania,defeitos,qualidades. E então a porta se abriu e o tempo te arrastou pra fora da minha casa e você não soube mais voltar, só sabe ligar e me procurar quando quer algo. Depois de tanto tempo eu fui jogando tudo que era seu fora. Troquei o sorriso que era seu por de outro. Coloquei outras fotos no nosso porta-retratos. Dei de presente o livro que você me deu a uma conhecida. O seu casaco que muitas vezes me aqueceu a noite, eu doei pra quem precisava. Seus óculos escuros que você nunca mais veio buscar, eu joguei fora (ele já estava velho e quebrado). E no final, a última coisa que me restava de você, estava em um lugar que eu não poderia arrancar, nem doar, nem jogar no lixo; o meu coração. E pra me livrar da última coisa que sobrou eu esqueci que tinha um. E até ontem, antes de você me ligar, ele realmente estava bem esquecido por mim. E enterrar meu coração dentro de mim mesma foi a coisa mais triste e suja, e injusta e cruel que eu fiz pra te esquecer.

Tem dois anos e oito meses que não te vejo. Nem uma foto. Nem um esbarrão na esquina. Nada. E você ficou em minha vida só por seis meses. E já faz dois anos e oito meses que esses momentos terminaram. Já fiquei com um milhão de caras durante seis meses, mas é justamente os nossos meses que não esqueço. É que eles não são você. E nem tem aquele algo mais que eu sei que você tem. Eles não têm o seu sorriso de cara inteira e covinhas, nem a sua pintinha pequena no canto esquerdo da sua boca, nem suas ideias revolucionarias, nem sua inteligência, nem sua infantilidade. Vou te comparar sempre com qualquer outro que aparecer em minha vida. E isso vai foder os meus relacionamentos. Eu sei. Mesmo que você não ligue, não apareça, não mande o recado e nem nada, sempre vou sentir esse iceberg querendo descongelar dentro de mim ao pensar em ti. Hoje, só pra deixar bem claro, não te amo mais. Não amo ninguém. E é justamente por não amar nada que decidi te contar tudo isso. Mas eu só queria colocar pra fora aquele ponto-final que estava solto em meio as minhas palavras procurando o lugar certo, aquele ponto que sabemos que pode terminar o pra sempre ou virar uma continuação.

Eu não gostava de você por causa da sua beleza, nem do seu charme, nem dos seus filmes preferidos, nem dos seus bons comentários e ideias geniais. Isso tudo era maravilhoso, mas não era o fundamental. Eu gostava mesmo era da nossa inconstância. Da nossa historia caminhando na corda bamba. Gostava da incerteza de saber se no outro dia você ainda estaria comigo ou ainda estaria com você. Era dessa nossa maluquice de brincar de circo e nunca saber por quanto tempo ficaria um com o outro. Eu gostava de como você me abraçava, da cara que você fazia quando estava dormindo. Do seu nariz metido, da sua cara de bobo tentando chamar atenção, das suas covinhas tímidas que aparecia sempre que você estava escandalosamente feliz. Eu gostava do jeito que você dizia que o que a gente tinha era amor quando na verdade não tínhamos nada. Eu gostava do medo que você sentia de se apaixonar e o seu jeito de me querer sempre por perto mais tomando todo cuidado para não me deixar te dizer “eu te amo”. E eu nunca disse essa frase. Você nunca me disse também. Fomos felizes sem precisar rotular o que sentíamos, sem expressar, sem espalhar, sem infectar um ao outro.

Eu gostava do seu medo de gostar de mim que te sufocava. Do jeito estranho de me pedir pra ficar mesmo me mandando embora. Só querendo que eu ficasse. Só com medo que eu ficasse. Dois medrosos. Dois mentirosos. Eu tentando ir embora sem te causar danos. Você tentando me segurar sem te causar danos. Acabamos aqui, no hoje, tentando manter uma linha fina de contato e maquiando o medo de gostar tanto assim de alguém que é feito pássaro: Nasceu pra ser livre.

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